trabalho

Por Bruno Carone*

Recentemente, tive conhecimento de dois dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios) que chamaram muito a minha atenção. O primeiro é que a cada grupo de dez famílias, em média, apenas duas costumam viajar para fora do seu ambiente habitual ao longo do ano. Além disso, entre as que declararam que não viajam, 48% revelaram que o motivo é a falta de dinheiro.

O dado me preocupa porque, muito mais do que um simples passeio, viajar é ter a oportunidade de sair da rotina, é uma forma de autocuidado e de busca pelo bem-estar e por tempo com nós mesmos ou com quem é importante para nós. Há destinos com poder de minimizar nosso estresse, potencializar a nossa criatividade ou ampliar a nossa cultura, entre tantos outros benefícios.

Do ponto de vista corporativo, acredito fortemente que o profissional que tem um período de descanso de qualidade tende a voltar mais motivado para o trabalho. Isso, seja nas férias, após um dia de expediente, no final de semana ou em algum período de folga pré-estabelecida com o gestor. Além disso, se essa desconexão das obrigações profissionais é genuinamente incentivada e respeitada pela organização, estou certo de que os melhores talentos pensarão, pelo menos, duas vezes antes de se abrir para o mercado e deixar um ambiente tão acolhedor assim.

No meu entender, essa preocupação ganha um caráter ainda mais genuíno quando direcionada do mesmo grau a profissionais de todos os níveis hierárquicos, dos mais operacionais aos mais estratégicos, entendendo que todos os cargos e funções são necessários para fazer a operação se manter ativa. Do contrário, posições simples que apoiam muitos profissionais e muitas áreas não existiriam.

O bem-estar do colaborador deve estar no radar do RH não só por uma necessidade vital do ser humano, mas também por esse momento pós-pandemia em que as pessoas estão seriamente repensando seus propósitos e rumos da carreira. De acordo com dados do Page Group, 53,3% dos profissionais da América Latina estão dispostos a se abrir para o mercado, o que tem impulsionado 41,3% dos empregadores entrevistados a se movimentarem para oferecer benefícios atrativos combinados com remuneração competitiva.

Diante da necessidade de inovar na atração e retenção de profissionais, minha recomendação é a oferta de benefícios diferenciados, ou seja, aqueles que permitem que o colaborador tome decisões dentro do que foi ofertado. Pode ser, por exemplo, um incentivo para o profissional viajar, permitindo que, além de democratizar o descanso para todos os níveis hierárquicos, o colaborador decida como, quando e onde quer descansar. É possível, ainda, dar incentivos para ações educacionais e ou para o cuidado com o corpo e a mente. O céu é o limite.

A grande questão aqui é que os profissionais de talento não estão mais dispostos a serem tratados como números de registro dentro da organização. Eles querem ser vistos e valorizados como pessoas que são. O melhor é que eles encontrem isso no seu negócio. Mas se isso não acontecer, diante do conceito anywhere office, eles vão atrás disso em outra parte do mundo. Pode aposta


*Bruno Carone é co-fundador do Férias & Co

Mesmo ainda com muitos casos confirmados de COVID-19 aqui no Brasil, afetando parte das empresas com os desfalques de colaboradores, a Europa pode estar caminhando para ‘uma espécie final da pandemia’, baixando restrições e até dispensando uso de máscaras. Com isso, será que chegou a hora encararmos uma ‘vida normal’? Rebeca Toyama, especialista em estratégia de carreira e bem-estar financeiro comenta sobre o desafio que as empresas enfrentam com a volta do trabalho presencial e ainda fala sobre o momento certo para organizar as finanças, tendo em vista as incertezas sobre os efeitos desta nova onda da pandemia.

O crescimento de casos tem levado a desfalques e muitas organizações se questionam sobre como proceder com as equipes para evitar a perda da produtividade.

De acordo com o Jornal EuroNews, o diretor regional da Organização Mundial da Saúde, Dr Hans Kluge, comentou sobre as variantes Ômicron e Delta onde afirmou que a pandemia está longe de terminar, mas o COVID pode se tornar uma doença sazonal nos próximos meses. “A variante Ômicron, que os estudos mostraram ser mais contagiosa que a Delta, geralmente leva a infecções menos graves entre as pessoas vacinadas, aumentou as esperanças de que o COVID está começando a mudar de uma pandemia para uma doença endêmica mais gerenciável, como a gripe sazonal”, disse Kluge, diretor regional da região europeia da OMS.

Portanto, mesmo com a maioria dos brasileiros vacinados com a dose de reforço e diante de tantas informações e também fake news a população tem ficado com receio de aos poucos irem voltando à normalidade, uma vez que as empresas estão precisando dos colaboradores mais perto, no formato híbrido ou mesmo de forma presencial. O crescimento de casos tem levado a desfalques e muitas organizações se questionam sobre como proceder com as equipes para evitar a perda da produtividade.

Para a especialista, as empresas e os colaboradores tiveram que se adaptar a uma forma nova de trabalho e muitos sofreram com isso. “Observo que nem as empresas como nem os próprios colaboradores estavam preparados para essa mudança de modalidade de trabalho, mas o que vimos é que esse é o futuro com todos seus benefícios e desafios. As empresas começam a entender que precisam investir na liderança e criar ambientes mais flexíveis e colaborativos para evitar o clima tenso nesse cenário de instabilidade”, comenta Rebeca Toyama, especialista em estratégia de carreira e bem-estar financeiro.

Mas ainda é necessário lembrar que, diante do home office, há muitos profissionais sofrendo com os impactos que a pandemia trouxe: o burnout. Então, este é o momento em que as empresas precisam acender o alerta com a saúde mental dos colaboradores e medirem esse índice. Há inúmeras ferramentas para isso, bem como os indícios claros de esgotamento e dificuldades de gerir e participar de reuniões on-line, cumprir metas e entregar resultados.

Segundo uma pesquisa encomendada pela Microsoft realizada em oito países pela empresa de análises Harris, no fim de 2020 foram os brasileiros que relataram ter maior impressão de estarem sendo afetados pela síndrome de burnout: 44% dos participantes disseram que a pandemia aumentou a sensação de exaustão no trabalho. O motivo? O fato de estarem sempre on-line e sem perspectivas de encontros e rotinas próprias da vida profissional que são desempenhadas no dia a dia das equipes.

“O papel das empresas é repensar e inovar algumas rotinas e dar uma atenção especial também à saúde mental dos colaboradores. Nem sempre é fácil identificar precocemente um colaborador com síndrome de burnout, já que os primeiros sinais da doença não se manifestam de maneira intensa. Mas, dentre os variados sintomas apresentados pela doença, tendo como uma das principais consequências a queda de produtividade, é comum observar falta de concentração, sentimento de fracasso, insegurança e alterações repentinas de humor. Por isso, é de suma importância os líderes estarem preparados para lidar com essa situação”, revela Rebeca.

E já estamos no momento ‘certo’ para organizar melhor as finanças?

De acordo com a especialista Rebeca Toyama, todo momento é o certo para se iniciar algum tipo de cronograma de reserva ou até mesmo organizar algumas contas que estão em atraso e sair das dívidas, pois nunca é tarde para se mudar de hábito. A persistência da pandemia nos leva a pensar que é preciso estar preparado com o orçamento doméstico, as contas em dia e o planejamento em tempos de incerteza.

Quando se fala em finanças, pode-se trazer o tema bem-estar financeiro a fim de levar consciência e transformar a forma como as pessoas se relacionam com o dinheiro. Como se sabe, a população brasileira não tem o comportamento de poupar, e para se iniciar uma vida próspera, feliz e repleta de bem-estar se começa na mudança do estilo de vida e nos hábitos que as famílias têm com o dinheiro.

“Sim, esse pode ser o começo de um novo ano repleto de mudanças voltadas para o bem-estar pessoal e bem-estar financeiro. Uma nova variante ou a pandemia não podem ser desculpas para não organizar as finanças. O estresse financeiro traz para a vida das pessoas desconforto, cansaço físico e psicológico e ainda pode afetar e muito na área profissional. O que é necessário se modificar para melhorar as finanças é ter uma postura sustentável pois diversas vezes gastamos por impulso, especialmente nestes tempos fazendo do consumo uma desculpa ou válvula de escape”, finaliza Toyama.

Especialista em estratégia de carreira e bem-estar financeiro, traz algumas dicas para as empresas e para os profissionais lidarem com essa nova fase do trabalho híbrido, mantendo a saúde mental em dia.

Para empresas:

1- Não aguardem o momento ideal para cuidar de seus colaboradores, o melhor momento é agora, não sabemos quando o “normal” volta e nem qual seria esse “normal”;

2- Invistam na liderança, nos atuais e nos novos, líderes podem ser fonte de soluções quando preparados ou de problemas quando não preparados;

3- Aproveitem os desafios atuais para inovar e serem mais sustentáveis.

Para profissionais:

1- Não esperem a pandemia parar para cuidar de seu bem-estar e de suas finanças, a hora é agora!

2- Escolha um estilo de vida alinhado com seus objetivos pessoais, profissionais e financeiros;

3- Inclua em sua rotina hábitos que te aproximem de suas metas e exclua os hábitos que te afastam delas.


Sobre Rebeca Toyama

Rebeca Toyama é fundadora da ACI que tem como missão desenvolver competências dentro e fora das organizações para um futuro sustentável. Especialista em educação corporativa, carreira e bem-estar financeiro. Possui formações em administração, marketing e tecnologia. Especialista e mestranda em psicologia. 

A partir de janeiro, grande parte do segmento corporativo voltará com suas operações no modelo híbrido. Com a retomada presencial, ainda que parcial, novos desafios surgem aos gestores e RHs com relação ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a denominar como a “quarta onda da Covid-19″. Trata-se do aumento de transtornos mentais e do trauma psicológico provocados diretamente pela infecção ou por seus desdobramentos secundários, como os transtornos ligados ao trabalho. Esse tema traz à tona a importância de as empresas terem ações em prol da saúde mental de seus profissionais e evidencia a urgência de focar no “S” de ESG (environmental, social and corporate governance). Segundo Fabiano Carrijo, CEO da Psicologia Viva, maior empresa de saúde mental da América Latina e integrante do Grupo Conexa, as empresas que não tiverem ações neste sentido ficarão para trás. 

Entre os problemas agravados pela pandemia, a Síndrome de Burnout ganhou destaque nos últimos dias com a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em classificá-la oficialmente como uma doença do trabalho a partir de 1º de janeiro de 2022, com a CID 11. A síndrome é caracterizada por exaustão física e mental relacionada à vida profissional do indivíduo e pode evoluir para doenças psiquiátricas como a depressão e transtornos de ansiedade. Com a pandemia, a sobrecarga de tarefas e a falta de limites entre vida pessoal e profissional fez o tema se popularizar. 

O retorno às atividades presenciais também é um motivo de preocupação para as empresas, pois pode desencadear sentimentos de angústia e estresse em algumas pessoas. A F.O.R.T.O. (Fear Of Returning To the Office), ou “medo de retorno ao escritório” (em português) é caracterizada pelo receio de retomar uma rotina corporativa tal qual era antes. Em geral, as pessoas com esta síndrome tendem a ser mais silenciosas sobre seus sentimentos com relação à retomada e precisam de tempo e coragem para dar este passo.  

“Ter um RH focado em gente e cultura é o primeiro passo que as empresas devem ter neste momento. É preciso se preparar para acolher essas pessoas e entender a particularidade de cada indivíduo, sem que as regras sejam impostas a todos da mesma forma. Treinar os líderes e entender que a saúde mental influencia no trabalho de diversas formas é a chave para que essa nova fase ocorra de forma menos abrupta nas empresas”, explica Carrijo.  

De acordo com dados apresentados na última edição do Fórum Econômico Mundial, as empresas perdem cerca de US$ 2,5 trilhões em produtividade com faltas no trabalho e rotatividade. Para a psicóloga e cofundadora da Psicologia Viva, Luciene Bandeira, um clima organizacional baseado na pressão, jornadas extenuantes e exaustivas e falta de abertura para o diálogo podem desencadear os transtornos mentais, que geram turnover e absenteísmo. Para ela, a solução é criar ambientes saudáveis em que haja segurança psicológica para os funcionários.  

“Não adianta o RH oferecer consultas psicológicas e realizar todo um trabalho de engajamento se a liderança não agir em consonância com essa diretriz. É preciso que, cada vez mais, os líderes aprendam a não minimizar o sofrimento alheio. Um dirigente que fala em uma palestra que faz acompanhamento psicológico tem um alto poder de influência para adesão à terapia, passando a mensagem de que cuidar da saúde mental é algo normal, quebrando a barreira do tabu”, finaliza a psicóloga.

Fonte: Psicologia Viva

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