cirrose

No primeiro ano da pandemia da Covid-19, os brasileiros recorreram mais às bebidas alcóolicas e às drogas. Levantamento feito pela Global Drug Survey (GDS) em 2020 e divulgado no ano passado, mostra um aumento de 17.2% no consumo de maconha; 7.4% de cocaína e de 12.7% de benzodiazepínicos (ansiolíticos e hipnóticos) no Brasil. Com relação ao consumo de álcool, o aumento foi de 13,1%, um pouco abaixo da média mundial de 13,5%. A pesquisa foi realizada com mais de 55 mil pessoas em todo o mundo e  desenvolvida como parte de um esforço global para entender melhor o impacto da pandemia na vida das pessoas, com foco no uso de álcool e outras drogas, saúde mental e relacionamentos.

Para alertar sobre o assunto, foi criado o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, no próximo dia 20 de fevereiro. Após dois anos de pandemia, a rotina das pessoas voltou a uma certa normalidade e os feriados prolongados seguem como oportunidade para o uso dessas substâncias. No Brasil, o principal deles é o Carnaval, período popularmente conhecido pelas pessoas se extravasarem e cederem aos excessos. Neste ano, devido a variante ômicron, muitas cidades cancelaram as celebrações da data, principalmente as públicas, mas as festas particulares seguem permitidas. 

Legalizadas, as bebidas alcóolicas são de fácil acesso para as pessoas. O hepatologista Rafael Ximenes, que atende no centro clínico do Órion Complex, percebe aumento de demanda após feriados prolongados. “Depois de festas e feriados, aumenta a procura médica, seja de quem já consome álcool e piora, seja de quem bebe pouco e passa mal”. Ele ainda fala dos sinais imediatos do consumo de álcool. “Em um primeiro momento existem mudanças de comportamento, perdas de reflexo, as quais causam acidentes, e ainda violência”, detalha.

O médico explica que o consumo constante e exagerado das bebidas causa, a longo prazo, pancreatite, cirrose, lesões neurológicas e no coração, mas que no início elas não apresentam sinais. “Os sintomas só aparecem quando a doença já está grave. A pancreatite causa dor na parte superior da barriga e diarréia. A icterícia, que são os olhos e a pele amarelados, pode ser sinal de cirrose ou hepatite alcóolica”, exemplifica Rafael, citando que uma forma de prevenção é ir ao médico regularmente.

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, não é o tipo da bebida que irá fazer mais ou menos mal, mas o seu consumo. “Dependendo da quantidade ingerida, a cerveja é mais leve, com menor teor alcóolico, mas as pessoas costumam beber mais”, ressalta Rafael Ximenes. “O recomendado é que as mulheres consumam no máximo sete doses por semana e os homens 14, sendo que uma dose equivale a uma lata de cerveja, 40 ml de destilado ou uma taça de vinho de 125 ml”, indica o hepatologista.

Outras drogas
A psiquiatra Lucila Pereira Neves, que também atende no centro clínico do Órion Complex, conta que normalmente as pessoas começam a beber ou experimentam drogas por curiosidade, incentivo de amigos, para se divertir ou para dar alívio a algum sentimento ruim, como tristeza, timidez ou ansiedade. “O uso repetitivo poderá levar ao vício devido a um mecanismo neurobiológico desencadeado pela própria substância consumida, que leva a uma descarga de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor que nos dá a sensação de prazer. Com isso, ocorre o desejo de repetir o uso”, explica ela.

Tanto as drogas quanto às bebidas trazem muitas consequências para quem consome. “Os males físicos, como alterações hepáticas, pulmonares, dores neuropáticas, desnutrição; males cognitivos, como prejuízo da inteligência, atenção, memória e raciocínio. Existem os males emocionais, como depressão, ansiedade e piora dos transtornos psiquiátricos que a pessoa já possua; males sociais, com prejuízo nos relacionamentos com familiares, amigos e profissionais. E ainda os males financeiros, pois o dependente químico, além de perder emprego ou não conseguir ser empregado, se desfaz de seus bens para financiar o vício”.

A médica destaca que a melhor forma de evitar o vício é não experimentar. “Uma vez experimentadas, a chance de evolução para dependência pode ser imprevisível, a depender de vários fatores”, explica. Um dependente químico não afeta apenas a si, mas também a quem está à sua volta. “Traz tristeza aos familiares, que muitas vezes não sabem como ajudar. Além de ficar mais exposto a violência e acidentes e ele mesmo praticar atos violentos e criminosos, levando a repercussões jurídicas”.

Lucila Pereira concorda que, após o Carnaval e feriados prolongados, aumenta a procura por atendimento médico. “Principalmente por quem teve recaída, ou seja, já estava em um processo terapêutico e procura com maior facilidade o atendimento médico, sem tanto medo e preconceito, que ainda são grandes entraves ao tratamento e a busca de ajuda”, detalha. Dentre os tratamentos disponíveis para os dependentes químicos, ela cita a psicoterapia, terapia ocupacional, mudanças do estilo de vida com atividade física regular, higiene do sono, alimentação adequada e combate ao estresse, suporte espiritual e tratamento medicamentoso clínico e psiquiátrico. 


A psiquiatra Lucila Pereira Neves cita todos os malefícios causados pelo uso das drogas e como eles afetam os usuários e quem está a sua volta. Arquivo Pessoal

 

Hepatologista Rafael Ximenes explica que as doenças causadas pelo consumo exagerado de bebidas só apresentam sinais quando estão avançadas. Arquivo Pessoal

Fonte: site Rede Dor

Hepatites, esteatose hepática, problemas causados em decorrência do consumo de álcool, cirrose e câncer são algumas das doenças que podem atingir o fígado. Um dos agravantes é que essas intercorrências costumam ser silenciosas e só apresentar sintomas em estágios mais graves.

A mais frequente é a hepatite. O boletim epidemiológico sobre a doença apresentado pelo Ministério da Saúde em 2020, com base de dados em 2019, aponta que no Brasil foram 891 casos de hepatite A; 13.971 do tipo B; 27.747 do tipo C e 164 do tipo D, a única que teve aumento. A maior parte do contágio foi por via sexual, atingindo mais homens do que mulheres.

Nesse quadro, o diagnóstico precoce e a prevenção são importantes para permitir o tratamento adequado e evitar o agravamento das lesões.

Como diagnosticar algum problema no fígado

Alguns sintomas indicam que há necessidade de se realizar diagnósticos próprios para a descoberta de problemas no fígado. Urina escurecida, fígado aumentado, pele e olhos amarelos, dor na região do abdômen e fezes mais claras do que o comum são sinais de alterações.

Nos casos assintomáticos, a opção é manter em dia os exames de rotina, como os de sangue. Se o médico perceber alguma anormalidade, pode pedir ultrassonografia, tomografia computadorizada, elastografia hepática e ressonância magnética para ter mais elementos de análise e encaminhar para o tratamento com um hepatologista conforme o caso.

Um dos componentes analisados no exame de sangue é a bilirrubina. A substância alaranjada é produzida quando o fígado decompõe glóbulos vermelhos velhos, sendo eliminada nas fezes e em pequena porção na urina. O excesso da substância mostra que ela não está sendo filtrada a descartada de forma adequada pelo fígado, o que indica doenças como cálculo biliar, cirrose ou hepatite. 

Em recém-nascidos, este exame ajuda a investigar a causa de icterícia neo-natal. O nível elevado de bilirrubinas no organismo de bebês deve ser tratado rapidamente porque pode prejudicar a saúde do bebê.

Outro exame para diagnóstico de doença no fígado é de Gama Glutamil Transferase (GGT). Esta enzima, encontrada no fígado e em outros órgãos, como rins, vesícula biliar e pâncreas, pode indicar alguma alteração no funcionamento do corpo. A investigação costuma ser solicitada em conjunto com a análise de fosfatase alcalina. Resultados elevados no exame de GGT dão sinais de diabetes, hepatite, cirrose e bloqueios no fluxo de bile para o fígado, por exemplo.

As medidas de tratamento variam conforme o tipo e o desenvolvimento da doença. Pode ser desde medicamentos adequados e dieta saudável, até a retirada de parte do fígado, nos casos de maior gravidade ou mesmo transplante em algumas situações específicas.

Como prevenir doenças do fígado

O fígado desempenha diversas funções metabólicas, endócrinas e imunológicas. Sintetiza carboidratos, gorduras e aminoácidos para armazenar nutrientes como fonte de energia, produz fatores de coagulação do sangue, faz a secreção da bile que ajuda a decompor e absorver gorduras, filtra o sangue e elimina toxinas e impurezas.

Todos estes processos são vitais para o ser humano: qualquer inflamação ou lesão colocam em risco a saúde e a vida da pessoa. Entre os motivos de doenças hepáticas estão fatores genéticos, obesidade e diabetes. A hipertensão pode agravar o quadro.

Alimentação saudável e atividade física

A prevenção passa por adotar um estilo de vida saudável. A alimentação natural é a primeira forma de prevenção. Produtos saudáveis são mais indicados que do opções processadas e gordurosas. Da mesma forma, a prática de atividades físicas regulares também deve ser incentivada, para evitar o sobrepeso.

Fumo, bebidas e medicação em excesso

Os profissionais orientam que seja evitado o consumo de bebidas alcoólicas e o uso medicamentos em excesso. Ambos podem sobrecarregar e causar lesões silenciosas no fígado e, com o tempo, atrapalham o funcionamento do órgão. O tabagismo também é um comportamento que deve ser desconsiderado.

Doenças sexualmente transmissíveis

Dois tipos de hepatite são sexualmente transmissíveis: a B, mais comum, e a C, com transmissão sexual mais rara. Portanto, é altamente recomendado o uso de preservativos durante todas as relações sexuais. Seringas não devem ser compartilhadas em qualquer hipótese.

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